Em breve Alexander e Cecilie completam 2 anos. Em breve Matias completa 5 anos. O tempo passa e passa rápido.
Eu ainda estou em casa cuidando deles a maior parte do tempo, mas estou acabando a faculdade, então fiz duas disciplinas esse semestre. Uma para escrever o tal do Trabalho de Conclusão de Curso, vulgo TCC, e outra sobre Teoria da Orientação.
Estou num período em que tudo está se conectando a tudo. Então mesmo as teorias acadêmicas mais ásperas encontram conexão com meu dia a dia. Meu TCC foi sobre Análise Epistêmica Crítica do Discurso e isso envolve conceitos cognitivos que, naturalmente, encontraram sua conexão com meus questionamentos existenciais. E esses questionamentos fazem parte do meu dia a dia materno. O curso de orientação foi diretamente conectado à minha maternagem. Como orientar meus filhos da melhor maneira possível? Como fazer deles sujeito de suas vidinhas? E como respeitar a subjetividade da existência deles sem impôr a minha e torna-los objeto?
Junto a isso, voltei a ler sobre o Círculo da Segurança, vulgo Teoria do Apego na prática [ainda vou escrever posts sobre isso, mas ainda me encontro ruminando o que leio sobre isso. Ainda não dá pra pôr pra fora]. Enfim, todas essas leituras e releituras, questionamentos e ruminações filosóficas têm me destruído e reconstruído com muita frequência.
Um ótimo exemplo: eu sempre gostei de usar a chamada Regra de Ouro como norte para minhas ações. A Regra de Ouro diz que devemos fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fosse feito – ou que não façamos aos outros o que não gostaríamos que nos fosse feito. Sempre achei a regra linda! Eu quero tudo de bom pra mim. De acordo com a regra, vou fazer tudo de bom para o outro.
Só que não é bem assim.
O outro não sou eu! Lançar meu julgamento sobre o que é bom em cima do outro é mascará-lo. É vesti-lo de Helena sem mesmo perguntar se pode. O outro também é sujeito, assim como eu. E só ele sabe o que é bom pra ele. Subjetivamente, eu só sei o que é bom pra mim. Essa idéia de fazer o melhor pelo outro causa guerras! Isso mesmo! Eu disse guerras! O ocidente invade países do oriente e força democracia goela abaixo. Exige que se realizem eleições livres e democráticas. Eleições feitas, o povo elege ‘ditadores’, ou quem quer que seja que não esteja de acordo com as idéias que gerem ganho econômico ao ocidente. Logo, é guerra! Golpe! Sanções!
A gente veste o outro com nossa roupa – seja ela pequena ou grande demais -, e não consegue aceitar o fato de o outro agradecer o gesto, mas devolver a peça.
A gente faz isso o tempo todo. A gente faz isso com nossos filhos. ‘Meu filho vai ter tudo o que eu não tive.’, ‘Meu filho pode ser o que ele quiser. Médico, advogado, dentista. Gari? Nunca!’ A gente cobre nossos filhos com nossos sonhos frustrados. A gente esquece que eles também são sujeitos. Sujeitos de suas vidas.
A Regra de Ouro continua sendo linda e válida em situações objetivas, tipo, ‘bater ou não bater?’ Mas nas zonas cinza, ela é falha. O outro merece ser protagonista da própria vida, da própria existência.
Como mãe, me cabe garantir que meus filhos tenham tempo e espaço para organizar as próprias idéias, traçar seus planos e caminhos. E como a mão do Circulo da Segurança, eu só preciso estar disponível. Disponível para me deleitar neles, e recebe-los quando se sentirem inseguros, machucados, cansados. Eu só preciso ser o porto seguro. A exploração do mundo fica a cargo deles.
Mas essas são divagações minhas. Coisa de ser humano em constante transição.
Agora, mais sobre as crianças:
- Ainda amamento em livre demanda, 24/7 [Yey!]
- Alexander e Cecilie começam na creche em agosto [Yey!/Buá!]
- Matias continua crescendo e surpreendendo a gente [já corrige meu norueguês, hunf!]
Um abraço.
Estava sentindo falta desses textos, de participar dessa mente pensante, que me abre a visão de um novo mundo, novos atos, novas idéias…. mesmo de longe, é muito bom compartilhar das suas idéias e pesquisas.
Eloah pagou de mamar, não por ela, mas acabou aceitando numa boa…rs. eu achei que estava na hora.
Oi, Fight!
Minha fiel seguidora. Obrigada.
Amamentar é uma negociação entre duas partes – ou três, ou mais. Deve ser prazeiroso para todos os envolvidos. Não adianta dar o peito, mas se sentir mal por isso. Fazer porque os outros acham que assim deve ser. Também não devemos parar com base na opinião alheia. Com o tempo a gente vai descobrindo junto com a criança outras formas de consolo, de carinho, de compartilhar calor e toque. E aí, a própria criança começa a entender que há formas tão boas quanto o seio de se acalmar. Eles ficam mais independentes, donos de si. Faz parte.
Tenho lido isso na teoria do apego. Dormir junto, dar o peito, ter parto natural, carregar no sling… nada disso garante um bebê seguro. A segurança está na sua disponibilidade e capacidade de ler e atender as necessidades dele. Tenho certeza que Eloah, assim como Brenda, são meninas seguras e confiantes, que crescem e se desenvolvem junto de vocês.
Um beijo, e nos vemos em breve!
A Regra do Ouro serve para os fracos! Os fortes vão muito além dela. Pra ajudar alguém eu penso que você precisa estar disponível, antes, para conhecer o outro, e ele disponível para se desnudar diante de ti. De outra forma a ajuda é uma inútil tentativa de se sentir útil, sem se preocupar se realmente o é. E nunca, mas nunca mesmo acredite no vice-versa!
Em tempo…as crianças estão lindas, e você também!
Felicidades.
Não diria que a regra é “para os fracos”. Estamos todos aprendendo a cada dia. O óbvio só se torna óbvio quando é dito. O que hoje é obvio para você pode não ser óbvio para o vizinho. É importante estimular a reflexão sem ser grosseiro ou denegrir o outro. Quem já age de acordo com a Regra de Ouro está buscando ser melhor em favor do outro. Melhor usar esse desejo como trampolim para uma reflexão mais profunda.
Nos vemos em breve!